CPMI das Fake News—04/12/2019



Coluna Daniel Cidade
Palpitando os fatos


CPMI das Fake News—04/12/2019
Joice Hasselmann
Publicado em 05/12/2019.



Num dia que já se anunciava desde o início da madrugada de ontem como tenso no STF, Senado, Câmara e Congresso, o tema acabou roubando boa parte dos holofotes no Twitter. A CPMI das Fake News, chamadas por muitos de CPMI dos Memes, ou C-P-Meme-I, ouviu ontem, 04/12/2019, na condição de depoente, a deputada Joice Hasselman (PSL/SP)


Dentre os muitos momentos empolgantes e àqueles que deixaram muito programa de humor para trás, o mínimo que se precisa saber é que, em depoimento à CPMI ontem, a deputada federal Joyce Hasselmann afirmou existir uma “milícia digital”, embora sem evidências claras ou elementos de prova – fato contestado por outros deputados – liderada por Carlos e Eduardo Bolsonaro, com participação de outros parlamentares estaduais e assessores. Segundo ela, essa “milícia” agiria com perfis anônimos para disseminar ameaças e ataques a críticos do governo Bolsonaro; utilizando-se inclusive de robôs, ao custo médio de R$ 20 mil por robô por disparo. Por sua suspeita, seriam quase R$ 500 mil de dinheiro público empregado nisso, já que os integrantes do “Gabinete do Ódio” seriam assessores parlamentares. Inclui ainda suposta articulação do vereador Carlos Bolsonaro para a criação de uma “mídia paralela” e de uma “Abin paralela”.

Dentre as muitas menções que o tema pediria, apenas algumas:

à O deputado Alexandre Frota (PSL/SP), aproveitou o plenário para, pasmem, oferecer um bolo em homenagem ao aniversário do “caso do Queiroz”;

à A relatora, deputada Lídice da Mata (PSB/BA), quer pôr foco na investigação do financiamento do suposto esquema;

à O deputado Ruy Falcão (PT/SP) pede explicações formais ao Palácio do Planalto;

à O depoimento ensejou questionamentos por parte de alguns parlamentares a respeito da segurança de assinaturas digitais para a criação de partidos, aprovada pelo TSE;

à Em contraponto, a deputada Bia Kicis (PSL/DF):

“Isso aqui está se transformando na CPMI do não façam meme, não falem de mim, não me chamem de traidora. Mas a deputada não vai conseguir controlar as redes, porque as redes são utilizadas por pessoas, não por robôs”.

à O deputado Marcos Feliciano (Podemos/SP) enfatizou a ironia de ela estar fazendo “dobradinha” com o deputado Rui Falcão (PT/SP);

à O deputado Filipe Barros (PSL/PR), muito preparado com reportagens, áudio da própria deputada Joice e em uma atuação bastante firme, destacou tratar-se de “denúncia falsa”, cogitou mágoas de depoentes por terem sido exonerados e da própria dep. Joice ter perdido a liderança do governo e o apoio de Bolsonaro às eleições municipais de SP. Dentre muitas outras questões trazidas:

“O que você fez, Joice Cristina Hasselmann, na madrugada de 16 para 17 de outubro? E, digo e foi fato público divulgado pela mídia, que a senhora estaria passando em apartamentos funcionais nesta madrugada pedindo para as pessoas tirarem a assinatura da lista do Eduardo Bolsonaro para a liderança e para colocar a assinatura no nome Waldir, delegado Waldir, na liderança do PSL. Isso mesmo depois do delegado Waldir chamar o presidente de vagabundo. Então queria saber se essa informação é verídica ou não e se a senhora também ficaria surpresa caso aparecessem imagens da senhora de madrugada em apartamentos funcionais pedindo para deputados tirarem suas assinaturas.”

à Ao menos dois deputados – Filipe Barros e Carla Zambeli (PSL/SP) – falaram em elaboração de dossiês, sendo que o primeiro referiu o “hábito” da deputada Joice de gravar conversas;

à Dolorosamente, sinto-me obrigado a reportar que me foi extremamente desalentador assistir a expressão da deputada Joice após a deputada Zambeli relatar um aborto espontâneo recente, logo após referir que a deputada Joice a teria classificado de “prostituta, abortista e drogada”, dentre outros adjetivos, antes de sua filiação ao PSL. A minha sensação pessoal foi de deboche, senti-me enojado com o vídeo.


Em mais uma sessão, a CPMI reforça as mesmas suposições sem, contudo, conseguir avançar em termos de provas que corroborem a existência de uma militância paga e organizada em prol do governo. Até agora, continua no campo da hipótese de que isso seja realizado dessa forma e com esses objetivos, sem que seja avaliado com mais seriedade se existe ou não. A mim, e a muitos usuários de Twitter, parece muito mais a capacidade de aglutinar pessoas em torno de uma ideia que elas apoiem do que uma estrutura organizada para ataque. Basta ver a quantidade de pessoas que brincam com as nomenclaturas que se tenta dar aos apoiadores de medidas do governo ou que se reúnam em oposição a alguma decisão do STF ou em alguma pressão a uma das Casas do Congresso Nacional.

No dia a dia de quem utiliza a plataforma, o que vemos é um engajamento orgânico de perfis anônimos, famosos, satíricos e de pessoas comuns; que levam muito na brincadeira a questão dos apelidos, mesmo que originalmente queiram ser agressivos, como as MAV’s e robôs.

Embora ambos lados interessados pareçam inflexíveis em demonstrar estar com a razão, ainda não se vê nada no horizonte que ponha fim a essa contenda. Enquanto isso, aguarda-se para ver se haverá empenho da CPMI em verificar fake News propaladas pela grande imprensa, a qual parece passar desapercebida pelos parlamentares que a compõe.

Em reação à sessão de hoje da CPMI, no Twitter uma das # mais comentadas foi #JoiceTraidora.

Aguardamos acompanhando.

Forte abraço!


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