Davi Alcolumbre perdeu o controle do Senado Federal
Davi Alcolumbre perdeu o controle do Senado Federal
Publicado em 14/02/2020.
Os dois
últimos dias foram bastante animados na política nacional. Tivemos uma grave
suspeita de crime eleitoral que eventualmente teria sido praticada pelo Partido
dos Trabalhadores, segundo depoimento colhido com transmissão em cadeia
nacional pela CPMI das Fake News e que está sendo pouco discutida enquanto a
mídia concentra seus esforços em discutir as denúncias que o depoente fez à
jornalista da Folha de São Paulo e fecha os olhos para o fato de que a
trajetória da CPMI foi drasticamente alterada. Tivemos, além, STF barrando
investigação ao Edson Salomão do MBC, que havia sido alvo de busca e apreensão
pelo próprio STF naquele “cabuloso” inquérito sigiloso. Tivemos também um
deputado do PSOL acusando em plena Câmara Federal o Ministro da Justiça e
Segurança Pública de “capanga” de milícia, fato grave e que requer providências.
Tivemos o ex-presidente, ex-presidiário e condenado Lula, em visita ao Papa no
Vaticano; num encontro de duas figuras cada vez mais polêmicas e com menos representatividade
no Brasil. E, finalmente, tivemos quase simultaneamente uma reviravolta no caso
do porteiro do Vivendas, tão repercutido pela Rede Globo, e estamos tendo mais perguntas
que respostas no caso do miliciano morto pela PM da Bahia. Provavelmente estou
deixando de citar alguns fatos, mas acho que foram os temas-chave mais
discutidos nas redes nos dois últimos dias.
Mas, para
minha surpresa, o fato que eu considerei mais importante na semana não tem tido
destaque: o Senador Davi Alcolumbre, presidente do Senado Federal, claramente
perdeu o controle da Casa.
Vamos aos
porquês dessa observação:
1. Após “atropelar”
o Regimento para não reunir a Mesa Diretora do Senado desde o início de sua
gestão, ele teve que começar o ano cumprindo o acordado no final do ano passado
de colocar em dia as “pendências” da Mesa/Comissão Diretora e não tem como
recuar em função do caso da Senadora Juíza Selma que, embora em recurso, tem a
cassação analisada pela Mesa num processo cercado de polêmicas e arranhões entre
Senado, TSE e STF. Além de alguns senadores terem manifestado discordância à
decisão do TSE, presidido pela Ministra Rosa Weber, há muito barulho em relação
à decisão do Ministro Dias Toffoli, por determinar de que forma o mandato
cassado da senadora deveria ser suprido até a realização de novas eleições, o
que parte dos senadores considerou uma interferência indevida em atribuição do
Senado. Consequência direta: liberação de solicitações pendentes. Já nessa
primeira reunião do ano foram liberados, segundo o site do Senado, “cerca de
138 pedidos de informação”. Há de se recordar que, dentre os pedidos represados,
encontram-se numerosas acusações por crime de responsabilidade de ministros do
STF;
2. Considerando
que o tabuleiro estava disposto para o jogo no Congresso Nacional em função de
haver anunciado negociação dos vetos com o governo, Alcolumbre se viu
surpreendido na própria sessão do Congresso Nacional da última terça-feira que
deliberaria os vetos presidenciais. A discussão de rito da sessão, que ocorre a
portas fechadas na reunião dos líderes, acabou sendo travada em cadeia nacional
e a apreciação do veto à LDO adiada para depois do carnaval diante de obstrução
e esvaziamento da sessão. Cabe aqui ressaltar que o engajamento não foi puramente
ideológico: foi marcante que um dos senadores a ter se insurgido tenha sido o
Randolfe Rodrigues (conhecido como o Senador do DPVAT); e
3. Em
continuação, senadores estão reunindo assinaturas para avançar com a prisão em
segunda instância no Senado em regime de urgência e em clara posição contrária
a de seu presidente. Movimento similar foi feito em fim de 2019 para começar a
tramitar o tema, via CCJ.
Embora eu
tenha sentido falta de menções de analistas políticos em que confio a respeito disso, se eu
fosse o Maia ou alguns dos ministros do STF eu estaria, no mínimo, apreensivo. Este
movimento no Senado, para além de deixar claro o enfraquecimento de Alcolumbre,
pode vir a alterar significativamente o delicado equilíbrio Câmara-Senado-STF
que marcou 2019 e revoltou boa parte da população brasileira.
A conferir.