Coluna Daniel Cidade
Palpitando os fatos


2020 finalmente aquece os motores:
Congresso e STF voltam das férias

Publicado em 04/02/2020.




Depois de longas e imerecidas férias de nosso Supremo Tribunal Federal e das duas Casas de nosso Congresso Nacional, retornam ao “trabalho” aqueles que diariamente se esforçam para fazer tudo ao contrário do anseio da maioria da população brasileira.

Este ano, contudo, teremos uma legislatura muito diferente da anterior. Para além das eleições municipais, já muito comentadas e que mostrarão a miopia de muitos partidos na leitura da realidade; das MP’s que marotamente Maia (o filho) parece caminhar para deixar caducar e da CPMI das fake que é tema de piada nacional embora, a depender dos contornos e se não abrirmos os olhos, pode caminhar para a censura das redes sob o eufemismo de “regulação”, há dois pontos cruciais que devemos ter em mente nesse “início de ano” do Judiciário e do Congresso:

1. POSTURA DO PODER EXECUTIVO ANTE CONGRESSO E STF

Após um ano inteiro com o Poder Executivo tentando, tanto na pessoa do Presidente da República quanto de seus Ministros, uma relação respeitosa e de não intromissão nos demais Poderes, chegando ao absurdo de evitar opinar; restou claro que não haveria reciprocidade e que os presidentes das outras Instituições continuariam a “dar pitaco” em tudo que devem e que não devem e a constranger ministros, com a interessada ajuda da imprensa, ansiosa pela criação de uma crise real, já que boa parte dela está vivendo de fabricá-las.

A postura do Presidente e de seus Ministros mais próximos desde o final do ano passado, contudo, tem deixado claro que não haverá mais esse silêncio: a tendência é que o respeito à repartição constitucional dos Poderes se mantenha absoluta, mas que a comunicação a respeito de opiniões e esclarecimento sobre a que Poder cabe cada decisão/impacto será mais clara e direta com o eleitor. Para um Congresso e um Judiciário com uma credibilidade tão baixa, tende a ser uma mudança de difícil digestão. Basta lembrar do burburinho causado por um tweet da conta do Presidente Bolsonaro e depois assumido pelo vereador Carlos Bolsonaro, em que se posicionava favorável à prisão em segunda instância para imaginar o que está por vir.

Cabe destacar que o Congresso “fechou” o ano passado devendo pautas caras ao governo e aos brasileiros, que foram trocadas por pautas próprias ou desfigurações de pautas. Já começa a legislatura com mensagem do Poder Executivo de suas prioridades e uma larga dívida com seus patrões, ou seja, cada brasileiro: prisão em segunda instância, MP’s, pacto federativo, reforma administrativa, impeachments de membros do STF e mais uma série.

2. O DELICADO EQUILÍBRIO ENTRE O CONGRESSO E O STF

Quem lê meus artigos já sabe que venho falando reiteradamente do vergonhoso e frágil equilíbrio mantido entre o STF e o Congresso à custa do não-avanço das acusações contra Ministros do STF no Senado, que são voluntariamente “travados” pelo presidente da Casa, Senador Davi Alcolumbre, e sob o leniente “pouco barulho” dos demais 80 membros da Casa.

O STF, não satisfeito, alterou ainda mais o equilíbrio por três situações distintas:

i. Involuntariamente, pelo afastamento do Ministro Celso de Melo para uma cirurgia, o que afeta até seu retorno o “apertado” e previsível quadro de votação no pleno e na Segunda Turma, além de tirar o voto de desempate das mãos do Presidente Toffoli. Isso já fez com que o Presidente adiasse quatro ações previstas na pauta;

ii. Repetindo exemplo de plantão passado, houve forte reação a uma canetada monocrática do Presidente da Casa sobre juiz de garantias. Alguns juristas chegaram a afirmar que ele nem poderia ter feito isso, cabendo ao relator. Mas, do ponto de vista da política, o que interessa é que o relator, Ministro Fux, ao suceder o Ministro Toffoli no plantão alterou completamente a decisão e deixou ainda mais clara a tensão no Tribunal; e

iii. Em mais um capítulo do inquérito sigiloso apelidado por alguns de inquérito do fim do mundo, instaurado de ofício pelo Presidente Toffoli, atribuído ao Ministro Moraes e considerado ilegal pela então PGR Dodge, o jornalista Allan dos Santos, do Terça Livre TV, foi intimado a comparecer a uma audiência no STF sem saber se na condição de réu ou testemunha e sem acesso aos autos do processo. Além de reavivar a discussão sobre a legalidade do inquérito e suas possíveis finalidades, abriu margem para uma situação até então não cogitada: levar o caso às cortes internacionais, em especial à Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Fato certo é que estas tensões ultrapassam os jardins do STF e geram apreensão no Poder Legislativo. Além do ensurdecedor silencio de boa parte da imprensa, poucos parlamentares comentaram o caso do jornalista na Câmara, não tendo eu visto nenhum Senador se manifestar publicamente na ocasião. Os afagos do Legislativo ao Judiciário na sessão solene de abertura do ano ontem falam muito.

Friso aqui que um escândalo dessas proporções, envolvendo cortes internacionais, pode ter impacto inclusive na nossa filiação à OCDE, que no passado recente questionou decisão do Ministro Toffoli sobre o COAF. E uma das indagações pode ser sobre a “pilha” de denúncias por crimes de responsabilidade de ministros do STF que, até o momento, dormem um sono tranquilo nas gavetas do Senado.

A última pimenta do tempero é a PGR, com a “gaveta” da Raquel Dodge (vingança? faça o que eu não pude fazer?). Trata-se de documentos deixados sobre “autoridades a denunciar” para o atual PGR, Aras.

Pronto! Para quem gosta de política, 2020 será mais um ano de fortes emoções e revelações. O colunista que vos escreve aguardará com alto estoque de Redpill, pipoca e guaraná.

Forte abraço!


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